quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Somos todos poemas inacabados


Foto: DDiArte - Dançando com o Azul

Chegamos tarde para os Deuses e cedo demais para o Ser. O homem é um poema inacabado.

Martin Heidegger

Afetamos o mundo com nossas atitudes, e somos afetados por todas as atitudes do mundo. O sistema capitalista, cada vez Mais nos propõe como estratégia de consumo o individualismo, que contraditoriamente, tem promovido a uniformização e totalitarismo, como se fosse possível romper com a cadeia de interelações humano-cosmológicas. Isolados em nossos pensamentos, dúvidas e medos, nos perguntamos: que mundo é esse? Como chegamos a esse caos? Não compreendemos como mergulhamos num processo cego que nos faz crer, que olhando para fora e pagando por uma felicidade fabricada, ditada por um modelo poderoso e, no entanto, frágil e ilusório, seremos mais felizes. E assim, perdermos o foco principal, nossa real natureza interior, nosso árduo exercício de ser, sendo a cada dia, cientes e fiéis a nossa busca de sentido.

Talvez, estejamos realmente prestes a um naufrágio coletivo, talvez, a tecnologia possa nos oferecer soluções para os riscos ambientais eminentes, a tragédia mais que anunciada. Mas o que nos cabe agora? De que forma, podemos contribuir para que o planeta terra, possa imaginar e construir um futuro que nos honre como seres desenvolvidos? Conquistamos gigantesco progresso, mas a humanidade parece não ter atingido maturidade proporcional ao seu crescimento. Repetimos os mesmos erros, agimos com inconseqüência, negligenciamos a grande família humana. Abrimos mão das coisas simples e naturais. O ego tomou o lugar das nossas consciências, o orgulho e o egoísmo dirigem as condutas. Nossas crianças e jovens estão crescendo num mundo que causa grande apreensão e insegurança, e o que é pior, falta de significado. O que podemos fazer?

Vinha escrevendo até aqui, totalmente insatisfeita, sentindo insuficiência no meu propósito de transmitir algo que realmente traduzisse meus sentimentos tão abalados pelas condições atuais de nosso planeta, quando fui arrebatada pelo texto e análise impecável de José Castello para o livro As Pequenas Raposas de Lillian Hellman – ed. José Olympio. Talvez, na frase em que o colunista tenta compreender o estilo literário da escritora, cheio de pudor, (segundo ele) possa estar a resposta as perguntas que vinha fazendo. Ele diz: “O sucesso é bom, mas é perigoso. Ele nos fixa em imagens suntuosas, nos cobra uma coerência e uma constância que não temos, e - o pior – inibe o que temos de mais humano: a vocação para o erro.”

Nesse sentido, podemos pensar a espécie humana como um imenso sucesso, principalmente, considerando a história e o vertiginoso progresso que temos alcançado nos mais diferentes segmentos. Mas será que temos clareza dessa vocação para o erro de que nos fala José Castello? Será que escreveríamos uma história digna de um planeta tão paradisíaco, se tomássemos consciência de nossa propensão ao erro? E por fim Castello pergunta: “O que seríamos, se o medo não nos dobrasse?”.

Sim! O que seríamos? Se fizéssemos de nossas palavras ações, de nossa indignação, participação. Não apenas esperar melhores soluções, mas desenvolvê-las. Olhar para dentro, ousar acessar nossa fonte de luz, enfrentar sanções e censuras que nos impedem de arriscar por um mundo mais fraterno e justo, um mundo que se percebe tão semelhante na dor, no medo, e que no fundo, simplesmente deseja mais amor e solidariedade. O resto já encontramos pronto, uma velha e bela casa, o paraíso que habitamos.

Margareth Bravo

clique e amplie Foto: Ines - Um lugar

“ Coloquei minha casa sobre o nada, por isso todo o mundo é meu.” Goethe

Me diz... de cima do seu muro

O que me reserva o futuro?

Eu que mesmo com medo vou no escuro, agora te pergunto:

Será que você que está lá pode adivinhar?

Somente sombras, ou nossa única certeza de destino?

O futuro não existe como fato consumado, ele mora no presente, naquilo que você desejar, naquilo que você arriscar.

Eu viajo até o futuro, só para te acordar.

Para dizer que o presente é o único tempo que existe e o único lugar.

Margareth Bravo

Foto: Arquivo pessoal

Depende de nós

Ivan Lins e Vitor Martins

Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
Que acredita ou tem esperança
Quem faz tudo pra um mundo melhor

Depende de nós
Que o circo esteja armado
Que o palhaço esteja engraçado
Que o riso esteja no ar
Sem que a gente precise sonhar

Que os ventos cantem nos galhos
Que as folhas bebam orvalhos
Que o sol descortine mais as manhãs

Depende de nós
Se este mundo ainda tem jeito
Apesar do que o homem tem feito
Se a vida sobreviverá

Depende de nós
Quem já foi ou ainda é criança
Que acredita ou tem esperança
Quem faz tudo para um mundo melhor