quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Ainda não somos sequer modernos, ou que abismo é esse?

Foto: Thijmen - França

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. Fico muitas vezes, horas refletindo sobre essas nomenclaturas, eu penso que a humanidade nem sequer amadureceu a denominação de Modernidade, quando a civilização deu por si, e passou a pensar o ser e suas implicações de estar no mundo, seus códigos, seu existir. Creio que a humanidade esqueceu de si mesma, num mundo cada vez mais artificial em formas, conceitos, comportamentos, tudo se transforma rapidamente em produto, gerando artificialidade por todo canto. Caminhamos atônitos, apressados, sem tempo de sentir, sem tempo de pensar o ser, o existir; teorizando, relativizando, sem perceber a efemeridade da vida, sem nos dar conta que somos uma grande família (humana) que habitamos a mesma casa (Terra) que partiremos breve e que nosso egoísmo é muito velho. Não, nós ainda não somos modernos. Seria então a Modernidade tão precocemente descartada para assumir uma espécie de falência da obra em curso, sepultando as chances da humanidade ser de fato moderna? Como então, pode ser pós-moderna se nem ao menos alcançou o que é modernidade, se não cumpriu esse papel? Teria a pós-modernidade o papel de subsumir a modernidade? A modernidade implodiu? Mal o homem se deu conta do pensar e de suas racionalizações; teriam elas o impulso de atirá-lo no abismo da pós-modernidade?


Foto :Kheit Pelczarski - Estados Unidos

Para mim depois de Modernidade o natural seria supermodernidade! Mas vejamos, nunca fomos completamente modernos, fazemos guerras inúteis e cruéis, ingressamos numa era de representações humanas, onde mesmo a bondade se transformou em produto, empresas se engajam na responsabilidade social ou ecológica, apenas porque lhe rende marketing, claro que não posso radicalizar creio na boa fé de muitos, mas caímos no reino dos interesses acima de qualquer coisa. Basta ver no Brasil, por exemplo, a população que cresce nas favelas e beira de estradas num nível de miséria vergonhoso, em sua maioria negra. Enquanto isso, a hipocrisia viceja criando cotas para negros nas universidades, quando a medida a ser tomada deveria ser a inclusão da história real dos negros e índios no currículo escolar desde o primário, outorgando-lhes a dignidade a que têm direito, além disso, criar oportunidade de base escolar e inclusão social, ou seja, começar pelo começo. O racismo é outra prova de que não atingimos a Modernidade, e o embraquecimento social, continua sendo a medida e o passe para que os negros sejam assimilados, seja pela riqueza ou pela fama, e os índios, esses, meu Deus, foram de tal forma triturados pelo sistema, que além de dizimados, estão como algo amorfo no imaginário coletivo, algo talvez como uma lenda.

Não, a evolução da humanidade não atingiu a Modernidade, a despeito de pensadores excepcionais, de teorias espetaculares, de avanços tecnológicos, continuamos engatinhando, enquanto houver destruição e abandono do homem pelo homem, com a omissão institucionalizada, enquanto fingirmos que está tudo bem, se nesse exato momento milhares de seres morrem de fome, crianças sofrem todo tipo de violência, o planeta é arruinado sistematicamente; tempos mórbidos de barbárie e alheamento.

Com o filósofo René Descartes, a civilização descobriu que pensa e logo existe, aprendemos a racionalizar, e tanto e por tantos métodos, como se milhares e milhares de auto-estradas se entrecruzassem, e onde, onde se perdeu o homem? A humanidade se encontra ainda em seu ensaio de vôo. Antes de aceitar a denominação de pós-modernidade, a humanidade precisa pensar a si mesma como uma possibilidade de vôos mais altos, de um pensar que permite também sentir, permite enlouquecer no melhor dos sentidos da palavra, sair da fôrma pronta em que nos metem desde cedo. Sim, penso logo enlouqueço, assim escapo um pouco do senso comum, e encontro transversais que permitam ao menos sonhar com novos vôos da humanidade.

No dia protocolado e dedicado a Consciência Negra, penso no dia da Consciência Humana que inclui a todos no pensar a raça humana igual, sem separar por castas, etnias, ideologias. Lembrando como pensou o filósofo Heidegger que “o homem é um poema inacabado” sempre podemos introduzir nesse poema o belo, ainda que o grotesco insista em nos rodear!


Foto: Laura Lizancos - Espanha

Paciência (Lenine - Dudu Falcão)

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára...

Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara...

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência...

O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

Será que é tempo
Que lhe falta prá perceber?
Será que temos esse tempo
Prá perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara...

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não pára
A vida não pára não...

A vida não pára!...
A vida é tão rara!...
Foto: Hazel - Dublin

11 comentários:

  1. Meg, Meg.. Vc se supera a cada texto, hein!
    Concordo completamente com seu belo artigo, recheado de um puro sentimento e vontade de viver num mundo melhor.

    Ao invés de nos modernizar, regredimos. O ato de terrorismo, revidar com guerras, torturas, racismos contra pele, nacionalidade, classe social, enfim. Isso é mais ignorante que no tempo da pedra, sem sombra de dúvidas.

    Compartilho essa expectativa e vamos manter nossa força de vontade pq só a esperança não nos tira do lugar.

    Parabéns!!!!!
    Beijão

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  2. Margareth,

    Boa reflexão sobre a condição humana,em especial a civilizacional que vivemos actualmente.

    Lembrei-me ao ler o texto,que li há pouco dias atrás,outro sobre a racionalidade,de como ela é causa principal da crise económica actual.
    Se pensarmos na história da humanidade,vemos que ela saiu há pouco de uma era emocional e supersticiosa,e aterrou nesta da racionalidade matemática e cientifica,material e individualista.
    Fico pensando que está faltando um equilíbrio entre as duas,talvez uma era sentimental que a espiritualidade tenha terreno para enraizar...pois só com ela actuante podemos ter sabedoria para humanizarmos os nossos comportamentos.
    Eles continuam muito irracionais para esses vôos da humanidade...

    A poesia do Lenine e Dudu Falcão é bem ilustrativa de como o Tempo é vida.
    De como necessitamos tanto dele para sentirmos a serenidade que faz-nos ver a beleza dos milagres.

    Abraço amiga,
    joao

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  3. oiii!!!
    Meg,acho que as cotas são uma hipocrisia necessária, sem isso os negros e os índios estariam sendo escorraçados do Brasil.
    Porém concordo que deve ser ensinado desde o primário.
    E estamos regredindo pq geralmente a modernização está acompanhada pela alienação, a ignorância, a falta de respeito e amor ao próximo, a ganância e o autoritarismo.
    Mas no dia que aprendermos a compreender e respeitar, esse dia estaremos evoluindo de verdade.
    bjs...bye!!!
    P.S. obrigada pela visita

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  4. Mascara a situação do ensino público,sim.
    Porém não concordo que as cotas são uma espécie de esmola,vamos analisar a situação.
    A maioria dos estudantes de universidades públicas são pessoas que estudaram a vida toda em escolas particulares, ou seja, o ensino foi mil vezes superior, agora um negro, um índio que fora marginalizado até mesmo na escola pública por causa de sua condição racial, lutou, prestou a a prova do vestibular, sem nem mesmo ter condição para pagar o ônibus.
    Embora isso seja esquecido por muitos, a média de classificação(ele prestou e passou na prova) entre os cotistas não
    é inferior desse modo pra ser uma esmola, e as notas se distanciam por milésimos, sem falar que tamanho é o esforço, que no 1 anos de universidade ele consegue tem média igual ou superior ao aluno que estudou a vida toda em escola particular.
    Se ele prestar a prova e não conseguir ficar dentro da pocentagem de notas ele não será aprovado.
    É por tudo isso que defendo as cotas e vou mais longe ainda,acho que deve ser expandido também para todos os alunos de escola pública.
    E para aqueles que estudaram em escola particular, acho deveria ser cobrado uma taxa, que seria destinada a aumentar o número de vagas nas universidades públicas.
    Mas também não podemos esquecer de melhorar o ensino básico, que no momento está abandonado.
    Se quiser colocar minhas palavras em um post no dihitt, tudo bem.
    Respondi por aqui pq o sistema de recado não comporta toda a minha tese.
    bjs...bye!!!

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  5. O problema é que em geral todos sã o muito apegados aos conceitos e aos preconceitos, até falam que são modernos, mas na verdade, o comportamento e as atitudes são pré-históricos.

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  6. Li um artigo recentemente, escrito por Leonardo Boff, que ele diz que a crise atual é uma crise de humanidade, porque nela reside um conceito empobrecido de ser humano que só considera um lado dele, o seu lado ego.
    A humanidade só poderá ser considerada moderna e se diferenciar da pré história, o dia que o ser humano voltar seus olhos para o seu próximo, o dia que a fome ou qualquer outra forma de injustiça não existir mais.
    Solidariedade, isso sim, é caminhar em direção a modernidade, é ter consciência humana.
    Beijo Meg

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  7. O querer ganhar a todo o custo é que perpetua a hipocrisia. A ganância que move o mundo, o poder instalado globalmente que nos ensina a sermos egoístas, a querermos tudo só por querer, só porque podemos, e nos vai distraindo para não percebermos que estamos a ser roubados, sacados, enganados. Não há conceitos de partilha, de entreajuda e de amor ao próximo. As pessoas passam por alguém caido no chão e viram a cara, não lhe dão a mão.
    E isto vai-se notando cada vez mais, andamos todos a toque de regras estabelecidas não se sabe muito bem por quem, na esperança de enriquecer, de querer ser melhor que toda a gente, engaiolados ensinados e hipnotizados por uma televisão fútil recheada de convites ao consumismo, à fama, ao querer aparecer.
    E continuamos todos À espera que o mundo mude, confortavelmente nos nossos sofás.

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  8. sempre que vejo vc no dihitt, lembro do primeiro dia que a gente se encontrou. vc veio me chamar pra dar uma opinião pro assunto de mulher excluída, ou coisa assim.
    naquele dia pensei: quem é essa loka que me direciona pro g1 ... cadê o blog dessa mulher???

    de lá pra cá, correndo feito uma ema, a passos largos pra não perder a pernada, não parei mais pra olhar vc, a não ser rapidamente. continuei pensando: parar pra que se ela não tem nem blog.
    ... e não é que hj, indo buscar um presente que o fortunato me deu, achei vc e o seu blog???
    tô feliz por isto e vou colocar um end seu, linkável, lá no jabá do meu rebloggando.
    beijo. rê.

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  9. essas reflexões são muitos boas pena que as pessoas pararam no seu egoísmo e se perderam em solidarizar com o p´roximo.
    parabéns
    noca

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  10. Olá Meglee, bem oportuno o seu post, não sei porque nesses últimos dias ando me indagando sobre esse assunto: estamos involuindo, enquanto seres humanos, ou "evoluindo" para uma nova categoria de animais à cata de sua própria sobrevivência?
    Também gostei muito do título flexível de seu blog, mostra-nos que "quem fica parado é poste"...rs
    abraço fraterno

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  11. Não podemos dizer que não evoluímos em nada, basta voltarmos dois séculos atrás pra ver isto. Porém a marcha lenta e a tênue linha onde nos equilibramos, no que diz respeito à civilidade, nos faz refletir.Por que a tecnologia caminha em passos tão largos e nossa civilidade dá dois passos à frente, dois pra trás?

    Aproveito pra desejar boas festas pra você e seus leitores. Um ano novo de mais consciência.

    Abraços

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