terça-feira, 30 de março de 2010

Dois Olhares uma visão : Liberdade!

Foto: Fidalgo Pedrosa - um passado bem presente -

Não há como deixar de constatar que num mundo tão plural e caótico, cuja população estimada para 2010 é de 7 bilhões de habitantes, que uma nova linguagem necessita ser partejada, uma linguagem que nos proteja de nós mesmos e do sistema opressor que nos faz reféns em suas infindáveis teias.

A internet me parece ser um veículo capaz de dar voz aos nossos anseios, de mobilizar, informar, denunciar, reduzir as distâncias, promover intercâmbio, impedir atrocidades, entre tantas maravilhas. Ela sem dúvida nos oferece um novo filtro, sendo uma poderosa ferramenta de transformação, mas ainda, será nossa escolha, nosso foco, nossa responsabilidade fazer desse instrumento um condutor decisivo para nossa participação nessa viagem pelo belo planeta Terra.

Foto:J.Pedro Martins - (N)um quadrado d'oiro Portugal

Assisti ao vídeo sobre Eduardo Marinho, através do blog do companheiro de viagem Adriel – Eterno Retorno, que por sua vez, soube do vídeo pelo link deixado pelo blog Balaio Variado em comentário ao seu artigo O esvaziamento da Arte, e que agora para contribuir com essa corrente de reflexão publico também.

Postado no You Tube em novembro de 2009, o vídeo vem causando polêmica, e muitas adesões ao blog Observar e Absorver onde Eduardo Marinho expõe suas idéias e sua arte - lá no seu blog, assim como no You Tube - jovens declaram que sofreram uma transformação, em contato com elas. As pessoas podem criticar o livre pensamento de Eduardo, entretanto, a sua fecundidade está no fato dele ser pragmático, e isso é inegável. Toda sua fala é baseada em experiências, não é um mero discurso, (como é tão comum hoje em dia), dissociado da prática. A maior coragem que verifico em Eduardo, é a de olhar para dentro, se questionar, ser um observador de si mesmo. Ele abandonou o exército e a arma que o faria atirar como um autómato, sua arma agora, é sua expressão autêntica de vida.

Pensando tristemente em como vivemos um tempo esquisito, onde pessoas apontadas como “celebridades” são aquelas que despejam baboseiras num programa líder de audiência e de faturamento, saí procurando alternativas, referências reais de pessoas exemplares, então fui dar uma olhada na revista eletrônica Via Política (livre informação e cultura) e com grande alívio, encontrei o sensível cineasta e também pensador Luiz Rosemberg Filho, ele havia acabado de postar um texto onde discorre sobre quão desafiador é exercer a liberdade " além dos limites impostos pela ordem dominante" por isso o curta-metragem denominado $em Título, " passa por um outro registro, mais adequado a um uso criativo da desobediência como virtude e potência" que é um outro olhar sobre o tema – liberdade. Então deixo aqui os dois vídeos para nossa reflexão,além dos links para os textos.


Foto: Egberto Simoni - Cores cativas - Brasil

Micronto:

O planeta azul estava em grave risco. Seus habitantes exerciam cada vez mais sua vocação: comunicação. E foi justamente isso que os salvou.


Margareth Bravo

segunda-feira, 15 de março de 2010

Mistério : Maiakóvski Vive!

Foto: Hester - Libéria
Quando o mundo atual, nos oferece tantas nulidades, assistir ao espetáculo – Mistério Bufo – é como sentir uma rajada de vento puro no espírito. Não vou descrever a montagem originalíssima, mas falar do clarão que se abre através proposta lúcida e urgente em tempos tão obscuros em que navegamos entorpecidos para o futuro, numa embarcação completamente avariada, sem notarmos a emergência da restauração, ou sem sequer percebê-la. Então, quando vejo o esforço e a dedicação de todos os envolvidos na realização da peça Mistério Bufo, sinto uma imensa gratidão. Sim! Eles conseguem fazer renascer Maiakóvski (1893-1930) – e mais que isso, junto com Maiakóvski ressuscitam todos os poetas e todos aqueles que sonharam e se arriscaram por um mundo melhor. A ressurreição do poeta, é também, a simbólica ressurrreição do ser humano, mas, por uma via extraordinária, o nosso mover o mundo, no lugar de ser movido por ele. Na leitura atualizada dos dramaturgos Rosyane Trotta, Fabio Ferreira e Cláudio Baltar, fica ressaltado de forma contundente, o risco a que está sujeito o planeta Terra, tanto do ponto de vista da sobrevivência do planeta, quanto aos valores que nos norteiam. Durante o processo itinerante do espetáculo, somos lançados num universo intemporal, como representantes do humano desde que o mundo é mundo. Somos a família humana! E quando chegamos ao futuro apontado pelo realizadores, somos confrontados com o compromisso da ressurreição humana, no sentido de olhar de frente para quem somos e o que queremos. É um choque de realidade! Mas, há nele um frescor, um sopro de esperança!
Não conheço de perto o histórico da concepção e montagem, mas posso imaginar o desafio. Um projeto audacioso, corajoso como esse, requer persistência e um desejo ardente de prosseguir! Isso, é mover o mundo! Eu me inclino em reverência a essa bela chama, onde quer que eu a perceba! Tudo nessa peça, é impecável – cenografia, figurinos, iluminação, trilha, acrobacia, preparação corporal, produção da Galharufa Produções Culturais, e tudo mais! Mas sugiro que assistam a peça , não porque é um sucesso, mas sim, por ser absolutamente necessária.

Margareth Bravo

Leiam o artigo de Marcos Francisco Ferreira sobre o processo de criação do espetáculo, na revista eletrônica Questão de Crítica que contém também um vídeo com trecho da peça.

Vejam a resenha da Revista Bula sobre o livro: “Maiakóvski — O Poeta da Revolucão” Editora Record (559 páginas), do russo Aleksandr Mikhailov, com prefácio de Alexei Bueno e tradução de Zoia Prestes.



E então, que quereis?...
Maiakóvski

Fiz ranger as folhas de jornal abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo de cada fronteira distante subiu um cheiro de pólvora perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos nada de novo há no rugir das tempestades.
Não estamos alegres, é certo, mas também por que razão haveríamos de ficar tristes?
O mar da história é agitado.
As ameaças e as guerras havemos de atravessá-las, rompê-las ao meio, cortando-as como uma quilha corta as ondas.

(1927) Tradução: E. Carrera Guerra In Maiakóvski –
Antologia Poética Editora Max Limonad, 1987

O Amor

Maiakóvski

Um dia, quem sabe, ela, que também gostava de bichos,
apareça numa alameda do zoo,
sorridente, tal como agora está no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela, que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século ultrapassará o exame de mil nadas, que dilaceravam o coração.
Então, de todo amor não terminado seremos pagos em enumeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me, nem que seja só porque te esperava como um poeta, repelindo o absurdo quotidiano! Ressuscita-me, nem que seja só por isso! Ressuscita-me! Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo de casamentos, concupiscência, salários. Para que, maldizendo os leitos, saltando dos coxins, o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia, que o sofrimento degrada, não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo: - Camaradas! Atenta se volte a terra inteira. Para viver livre dos nichos das casa. Para que doravante a família seja o pai, pelo menos o Universo; a mãe, pelo menos a Terra.

(1923) Tradução Haroldo de Campos