terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Culpa - o disfarce do medo

Foto: Teresa Soares - Aveiro -Portugal


Quando menina, por tradição familiar freqüentava as missas da Igreja Católica, havia uma máxima que me causava imenso desconforto e ficava ecoando em minha mente gerando um efeito de punição terrificante, e os fiéis repetiam: “por minha culpa, minha máxima culpa”. Hoje percebo o significado para essa questão por outro ângulo , não sei se era o que a orientação cristã pretendia ensinar, mas o fato é que desperdiçamos tempo e energia ao culpar o outro que faz órbita em nossa intimidade, por seja lá o que for que nos sucede. Retiramos nossos olhos de onde deveriam pousar, quando nos desculpamos por nossos adiamentos, por nossas apatias, pelo nosso desistir de buscar o que queremos responsabilizando o outro e espelhando nele nossos fantasmas. Essa transferência de culpa ou responsabilidade, apenas se transforma numa habilidade inútil de fugirmos de nós mesmos, nosso foco então, deixa de ser nossa meta, nosso real desejo para ser um desvio numa espécie de fardo por nós autorizado. Nesse sentido, tudo quanto nos acontece, é nossa permissão. Se existe espaço para responsabilizarmos alguém, por nossas perdas, desistências, frustrações e outras tantas pendências, no mínimo somos co-responsáveis por esse fardo – a culpa projetada no outro, é nada mais, nada menos que um disfarce do medo de crescer. Por isso, eu atualizo a sentença “minha culpa, minha máxima culpa” para – minha responsabilidade, minha máxima responsabilidade sou eu, sou eu, sou eu, simplesmente eu, porque permito seja lá o que for. Assim, libero o outro, e me ponho a olhar para aquilo que me causa medo e no que deve estar minha responsabilidade, investimento e zelo.

Margareth Bravo



Foto: Fju- Rússia


Auto-encontro


Se eu encontrasse comigo, eu teria medo de mim

Dos meus olhos, as minhas palavras

Da minha maneira de falar coisas profundamente tristes e ao mesmo tempo rir

A minha mão na cintura, da minha mão apoiando minha cabeça

Eu teria medo do meu olhar

E novamente do meu olhar, da firmeza dele, do desafio.

De tudo que ele consegue dizer quando estou muda

Do seu negrume transparente, da sua insistência

Do meu olhar... eu teria muito medo de mim Foto: Klaas - Amsterdam

Dele quando faminto, quando sedento

Quando penetrante na sua magia se exaltasse

Eu teria muito medo de ver o que ele faz por mim

E de quando ele não esconde nada



Medo eu teria quando estivesse fugindo, quando brincando de olhar

Mas, muito, muito medo eu teria, quando com medo de olhar...

Margareth Bravo




4 comentários:

  1. adoro achar teu blogg ... venho aqui mas não comento ... leio e saio correndo pq to sempre correndo. paro no dihitt e no rebloggando, escrevo .... vc sabe .... adoro seus escritos.

    mas sobre o que vc disse, na ditadura éramos mais bem servidos que na democracia ... pois eu acho que aquela era a democracia ... te contei, não?!?!?!?!?!?!?!?!

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  2. Adorei o teu auto-encontro, Margareth! Linda que fico esta poesia. Lembrei de Caetano: "de perto, ninguém é normal!" Não sei como seria o meu auto-encontro, mas acho que eu daria muitas risadas comigo!
    Beijos pra ti.

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  3. Passei para dizer que tem um pequeno prémio no meu blogue.
    E aproveito para dar os parabéns pelo magnifico post.

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  4. meg, tomara que vc não encontre o seu blogg, porque este aqui está ótimo ... rsrsr ... beijo.

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