Fiquei completamente extasiada com a peça Simplesmente eu. Clarice Lispector; encenada, adaptada e dirigida por Beth Goulart com a supervisão de Amir Haddad.
Vou me limitar a compartilhar aqui minhas impressões porque não me contenho de vontade de tecer os melhores elogios a esse espetáculo, em tudo e por tudo impecável!
A rede está repleta de maravilhosas e enaltecedoras críticas, as especializadas como a de Bárbara Heliodora, e a de blogueiros especiais como Jorge Fortunato, meu amigo, com quem assisti a peça.
Beth Goulart, em minha opinião ascendeu ao Olimpo. É impressionante constatar como ela encarna Clarice Lispector e passa de personagem a intérprete com tamanha maestria e leveza. Mas, não pensem que isso se deu de forma casual, a atriz, fez uma imersão durante dois anos, tendo inclusive utilizado a psicanálise como ferramenta de seu primoroso trabalho conduzida pela psicanalista Daisy Justus, além de outras pesquisas relatadas por ela, no site Grandes Talentos.
E Clarice? Clarice revive! E como se não bastasse, ao final da apresentação, depois de ter nos inundado com a mais pura arte, Beth Goulart ainda partilhou com o público generosamente o sucesso da noite, agradecendo pelo silêncio, pela contribuição da energia emanada pela platéia com a qual interagiu. Sinalizou ainda, que esse trabalho, é uma forma de tocar a pessoas, (tal como na sabedoria oriental e presente no I Ching), para que sejam melhores com elas mesmas, e depois e em conseqüência, melhores, em suas casas, bairros, cidades, países finalmente assim, estaríamos de fato contribuindo para um mundo melhor! Só posso agradecer a Clarice e a Beth, por tamanho empenho, sensibilidade e grandiosidade de espírito!
Como escreveu a escritora: “A arte é o vazio que a gente entendeu”.
E ficou claro (ou Clarice) que Beth Goulart entendeu.
Deixo aqui um trecho do texto Perdoando Deus, que pode ser lido na íntegra no blog Legião Estrangeira, em homenagem a Clarice.
“... Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ideologicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admito e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem podia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato?...”
Eu, assim como Clarice me perdôo, perdôo a Deus... e aos ratos, mesmo a ratazana que me atacou quando eu estava grávida, o rato que derrubou o pintor na escada, e todos os ratos que cruzaram ou ainda podem cruzar meu caminho, sinto profunda compaixão por eles, e assim, não é preciso que eu invente Deus, Ele é, somos nós!
Por alguma necessária e maravilhosa sincronia vários acontecimentos envolvendo Clarice Lispector estão ocorrendo, inclusive o Instituto Moreira Salles acabou de encerrar uma exposição de suas telas em guache com seu talento de pintora pouco revelado. Detalhes sobre a trajetória da peça e outros eventos relacionados a escritora aqui.
Saiba também, sobre a biografia do norte-americano Benjamim Moser, que ensejou torná-la mais conhecida no mundo. Muito se escreveu e se escreve sobre Clarice, mas para os que desejam se aprofundar ficam as sugestões:
Clarice: Uma vida que se conta. Nádia Batella Gotlib. Ed. Ática - 1995
Eu sou uma pergunta: uma biografia de Clarice Lispector.Teresa Cristina Montero Ferreira. Ed. Rocco -1999
O Discurso da falta em Clarice Lispector. Gilda Plastino. E. Edifieo- 2008
No vídeo abaixo, um trecho de sua última entrevista, para a TV Cultura em 1977, mas são cinco partes, que merecem ser vistas.
Olá Meg
ResponderExcluirVocê não pode nos privar dos teus textos! Estava saudoso de ler algo bom. Este espetáuclo foi um dos melhores, senão o melhor do ano e Beth Goulart uma interprete perfeita.
Que bom que pudemos desfrutar juntos desse momento.
Um beijo
Adorei!!!!!
ResponderExcluirBom demais!!!
Continue nos presenteando com seu infindável amor pela cultura,pela arte e pela escrita.
Bjs querida
Que lindo, adoraria ver este espetáculo, pois adoro Clarice.
ResponderExcluirOi Meg, Parabéns pelo texto. Vc sabia que a Beth gravou um disco e eu tive o prazer de gravar com ela? Foi na época que ela era casada com o Nando Carneiro (A Barca do Sol) irmão do Geraldo. Foi muito legal! Bons tempos! Bjs
ResponderExcluirDécio Carrascosa
Oi Decinho!
ResponderExcluirLembro da Beth cantando, não sabia que você havia gravado com ela,que boa surpresa,mas então, ela estava muito bem acompanhada pelo seu talento e pelos irmãos Carneiro. Aliás, eu gostava demais de A Barca do Sol. Muito bons tempos mesmo! Que saudades dessa época! Obrigada pelo carinho em comentar!bjs